domingo, 28 de setembro de 2008

A Tapas e Pontapés, de Diogo Mainardi

A Tapas e Pontapés, de Diogo Mainardi, editora Record, 8 ed, 2005, Rio.


Tapas e Pontapés, de Diogo Mainardi (um livro jocoso que mescla uma pitada de inteligência, muito conservadorismo, burrice e estupidez. Juntando tudo isso .... ). Reúne 17 crônicas: Parasitas, Plebiscito, Panelaço, Fé, Laranjas, Abacaxi, Abrasileiramento, Filho, Americanos, Filho, Museu , Impressionismo, Balas, Pobres, Imigrantes e Empombações. Nelas ele se coloca a favor da ALCA, da privatização do ensino superior, por outro lado contra as cotas, reforma agrária e diz que Cultura não é assunto de Governo. É um cara que não é sério e não se pode levar o que ele escreve também. Chega a ser engraçado apenas.

A definição do trabalho do Mainardi por ele mesmo:

“O Brasil tem opiniões demais. Joga opiniões como se não valessem da nada. Como se houvesse um estoque infinito de opiniões. A oferta abundante deprecia o mercado. Piora a qualidade do produto. Vivemos num país em que qualquer idiota se sente no direito de disparar suas bobagens, porque ninguém vai se dar ao trabalho de ouvi-las. Eu, por causa do meu trabalho, aprendi a dar um justo valor às minhas bobagens. Elas sempre vêm com etiqueta e código de barras. Querendo uma, é só tirar da prateleira, botar no carrinho e passar pelo caixa”.

O cara que fala sobre tudo contraditoriamente

“Tenho uma opinião sobre tudo

Ao longo dos anos, notei que minhas melhores opiniões são aquelas em que desconheço completamente o assunto. Já me flagrei dando quatro ou cinco opiniões contraditórias sobre o mesmo tema. O que importa num profissional de opinião, como eu, não é o grua de fidelidade a uma idéia mas a capacidade de defender duas coisas opostas ao meu tempo. E nisso eu sou mestre.
Houve um tempo que eu não era desse jeito. Tinha poucas opiniões sobre poucos assuntos. Eram opiniões firmes, categóricas, que não admitiam réplicas. Podia-se notar em mim um certo fanatismo. Depois comecei a ganhar dinheiro com minhas opiniões. E o que era convicção virou trabalho. Tornei-me uma pessoa melhor. Mais elástica. Mais livre. Menos pedante. Menos assertiva. Hoje em dia, sou dou opinião mediante pagamento antecipado. Quando me mandam um email, não respondo, porque me recuso a escrever de graça. Quando minha mulher pede uma opinião sobre uma roupa, fico quieto, à espera da moedinha”.

Mais trechos



“Para se ter uma idéia mais exata da absoluta dependência de nossa literatura em relação ao poder público, O Preço da Literatura, de Marisa Lajolo e Regina Zilberman.
Por meio da analise detalhada de leis, cartas, contratos, planilhas e recibo, as autoras demonstram que ao longo da história, a atividade de escritor existe entre nós como gentil concessão governamental. Até hoje é assim. O Estado é responsável por mais da metade do faturamento do mercado editorial brasileiro, sem contar o dinheiro distribuído sob a forma de prêmios, subsídios fiscais, empregos no setor público e campanhas.
O parasitismo do meio cultural é incompatível com a liberdade artística. O Brasil tem mais de trinta leis de incentivo à cultura. É incentivo de mais e cultura de menos. Eu aboliria todas elas. Danem-se os artistas. Se eles não dispõem de dinheiro para fazer um filme ou para viver de poesia, vendam o carro ou pecam emprestado a um agiota ou explorem amigos e parentes. Entre gastar dinheiro público para financiar uma obra de arte e deixa-lo para ser surrupiado por um político ladrão, é menos danoso, culturalmente deixa-lo para o político ladrão.” (pág.15-16)

“O Brasil tem deus demais. Tem deus no futebol, nos vidros dos canos, na tv, no rádio, nos hospitais, nas salas de aula, na reforma agrária, na política. Qualquer um pode atribuir milagres em nome de deus. E, em nome de deus, qualquer um pode enfiar a mão no bolso dos outros. Precisamos de menos deus.” (pág. 82)

“A leitura é um fetiche nacional. Atribuímos grande importância à leitura. Desde que sejam os outros a ler”

“Nossa literatura não conseguiria sobreviver autonomamente, sem a ajuda estatal”

“MV Bill acredita ter um antepassado branco. Se FHC tem um pé na cozinha, então MV Bill tem um pé na sala de jantar” (pág. 169)

“Viver no exterior, sobretudo numa cidade como Veneza, me desautoriza a escrever sobre o Brasil.
Costumo falar mal do Brasil. Não o único. Todo mundo fala mal. A diferença é que levei a coisa a diante e fui mora no exterior. Pior: fui morar em Veneza, um vilarejo inabitável, lamacento e fedido, sem nada para se fazer. Se eu tivesse escolhido Nova York, Londres ou Paris, a traição seria mais acertada.” (pág. 151)

“O barroco brasileiro nunca foi nem nunca será arte. É artesanato” (pág 127)

“A mistura racial é o principal mito fundador da nossa nacionalidade”

“Nossa mestiçagem é resultado de uma limpeza étnica, de um estupro coletivo praticado por senhores brancos contra escravas negras”

A gente gosta de pobres. A gente gosta tanto deles que nunca pensou em torná-los menos pobres. A gente gosta de votar em pobres, de reclamar de pobres, de escrever sobre pobres (pág. 183) Ainda bem que o Brasil tem tantos pobres. Dá e sobra para todo mundo: para escritores, para políticos, para jornalistas, para revolucionários. O que será de nós sem tantos pobres. (pág.185)

Não poderia faltar A IURD

“O bispo Macedo, da Igreja Universal, discorrendo sobre a fé de Abraão, comparou Deus a He-man. Eu nunca acreditei em Deus e Ele nunca acreditou em mim. Mas se o bispo Macedo está certo, e Deus realmente é igual ao desenho animado de He-Man, sou obrigado a rever todos os meus conceitos. Estou pronto para o batismo. Pelos poderes de Greyskull: eu tenho a força! Uma dúvida: Se Deus é He-man, quem é Gorpo? Quem é Teela? Quem é o tigre maricas?” (pág.75)

Citação
“A função primária da comunicação escrita foi facilitar a escravidão.” (Levi-Strauss)

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