sexta-feira, 11 de abril de 2008

Resenha do capítulo Concepções de Língua, Sujeito, Texto e Sentido In Koch

No primeiro capítulo intitulado Concepções de Língua, Sujeito, Texto e Sentido, do livro Desvendando os segredos do texto, Ingedore Koch aborda a concepção de sujeito, de língua, de texto e de sentido que são pontos basilares no estudo de texto/discurso.

Esse capítulo é dividido em dois tópicos: concepção de língua e sujeito, e concepção de texto e de sentido. No primeiro, Koch parelha língua com o sujeito já que o pressuposto é “a concepção de sujeito da linguagem varia de acordo com a concepção de língua”. Língua e sujeito que são indissociáveis, pensar em um é pensar também no outro, ou vice-versa. No segundo, texto com sentido. Os dois momentos fazem um todo indivisível.

Assim, a autora apresenta três posições clássicas com relação ao sujeito, leia-se também língua, texto e sentido, são elas:

1. Predomínio, ou exclusividade, da consciência individual no uso da linguagem. O sujeito da enunciação é responsável pelo sentido. A língua é compreendida como representação do pensamento. Nesse ensejo, o texto é visto como um produto – lógico – do pensamento (representação mental) do autor e cabe ao leitor/ouvinte captar a mensagem. O sujeito emissor é ativo, o destinatário não. Concepção que se coliga com ideologia liberal e sua doutrina do individualismo.
2. “Assujeitamento” - Se na concepção anterior fala-se de um sujeito de enunciação todo poderoso que é responsável pelo sentido, nessa se desconstrói e se prega a inexistência de sujeitos, visto que “o individuo não é mais dono de seu discurso” (POSSENTI apud KOCH), ele é apenas resultado de uma ideologia e do seu inconsciente. Uma posição de orientação marx-freudiana. Possenti questiona se esse homem, com advento da Psicanálise e consequentemente a descoberta do inconsciente, “precisa saber o que é para saber o que diz”. Se ele não souber, qualquer ato torna-se inconsciente ou como diz o autor “anula qualquer opção ou ação consciente de sujeitos”. Ele Pergunta. E continua e chega à Análise do Discurso (AD) em que essas questões fazem parte. Foucault (2004) diria que embora seja do sujeito que “nasçam” os discursos, ele não é o centro do seu discurso nem tem poder de decisão, escolha e estratégias de produção discursiva, na concepção da AD. Ele pensa ter domínio sobre o que diz, no entanto, uma ideologia que perpassa as relações sociais determina seu discurso. Possenti faz critica: “Penso que a AD ganharia se propusesse uma teoria psicológica, na qual o sujeito fosse ‘clivado pelo inconsciente’, mas não fosse reduzido a uma peça que apenas sofre efeitos. Certamente não há domínios em que os sujeitos só sofram efeitos, mas há outros em que sua atuação é demandada e verificável”. Nessa visão, de língua como código, “o texto é um mero instrumento de comunicação e o sujeito é (pre)determinado pelo sistema”. Quanto ao sentido, basta que leitor/ouvinte tenha conhecimento do código para decodificar o texto. O destinatário é um mero decodificador, agente passivo.

3. Lugar de Interação – visão interacional (dialógica) de língua em que “os sujeitos são vistos como atores/construtores, como sujeitos ativos que – dialogicamente - nele se constroem e são construídos”. Nela a compreensão e a produção de sentidos não é concebida em uma simples captação de uma representação mental ou decodificação de mensagem, e “sim uma atividade interativa altamente complexa de produção de sentidos (...) que requer um vasto conjunto de saberes (enciclopédia) e sua reconstrução no interior do evento comunicativo” (KOCH, pág. 17, 2006). Desse modo, o sentido de um texto é uma construção, como ela coloca “construído na interação texto-sujeitos (co-enunciadores)”. E a coerência passa a fazer parte desse contexto, não cabe mais como “mera propriedade” ou qualidade do texto”.

Dascal (1992), no seu texto Modelos de Interpretação, aponta o anseio pela busca de sentidos como, talvez, a melhor caracterização de espécie Homo Sapiens. Com efeito, “o homem seria, assim, um ‘caçador de sentidos’”, na busca do “ escondido”. Nessa questão para responder as inúmeras inquietações, o autor elabora um rol de teoria/modelos:

· modelo “criptológico” – “ o sentido está objetivamente ‘lá’ ( no texto), basta descobri-lo”;
· modelo “hermenêutico” – o sentido não está mais ‘lá’ (no texto em si), e sim ‘aqui’, no interprete com seus propósitos e background;
· modelo “pragmático” – o sentido é produzido por um agente que tem uma intenção e na busca desse sentido é “preciso levar isso em conta”;
· modelo “superpragmático” – o sentido é captado com “base na informação contextual”;
· modelo de estruturas profundas causais - o sentido é um produto de um jogo de forças, o inconsciente e a ideologia;

O pai desses modelos tem uma predileção pelo pragmático. Contudo ele propõe que os diversos modelos sejam vistos como complementares. Ele utiliza a metáfora do Iceberg: “ No topo, está o signo a ser interpretado. Abaixo da superfície várias camadas do sentido a ser caçado”. Koch afirma que essa metáfora é útil para a reflexão da leitura e produção de sentido, sobre essa eterna busca de sentido ela fala “O processamento textual quer em termos de produção, quer de compreensão, depende, assim, essencialmente, de uma interação - ainda que latente – entre produtor e interpretador” ( pág. 19).

A concepção (sujeito, de língua, de texto e de sentido) ‘adotada’ e defendida pela autora é a “sociointeracional de linguagem, vista como lugar de interação entre sujeitos sociais, isto é, de sujeitos ativos, empenhados em uma atividade sociocomunicativa”. Essa atividade corresponde a um projeto de dizer, do produtor do texto, e uma participação ativa na construção do sentido, do interpretador. Eles são “ ‘estrategistas’ na medida em que ao jogarem o ‘jogo da linguagem’ mobilizam uma série de estratégia de ordem sociocognitiva, interacional e textual com vistas à produção do sentido”. Como peças desse jogo, de maneira cabal, tem-se:
1. O produtor /planejador viabiliza seu projeto de dizer e constrói sentidos;
2. Texto estabelece limites quanto as leituras possíveis;
3. leitor/ouvinte vai proceder à construção de sentidos de acordo com o (modo do) texto é concebido (lingüisticamente).
Koch finaliza esse texto com a definição de texto, de indicada por Beaungraunde, “evento comunicativo no qual convergem ações lingüística, cognitivas e sociais” que coaduna com a concepção da autora e desse texto que é de dialogismo e interação entre os sujeitos sociais.

REFERÊNCIA

Koch, Ingedore. Concepções de Língua, Sujeito, Texto e Sentido. In: Desvendando os segredos do texto.
FOUCAULT, Michel. A Ordem do Discurso. São Paulo: edições Loyolas, 11ª edição, 2004.

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