sábado, 8 de março de 2008

Para além de uma data comemorativa


O ano é completo de datas comemorativas como se houvesse muito para festejar. Com o dia Internacional da Mulher não é diferente, entra na grande regra. De positivo esses dias possuem o valor de lembrar a data, de negativas, muitas, mascara a realidade e ainda comemora, além não resgatar a data em sua dimensão maior. Eis o que acontece com o dito tal dia da Mulher. Milhares de pessoas, inclusive do sexo feminino, desconhecem a razão histórica do 8 de Março. Sai e entra ano, o mesmo discurso. Então comemorar mesmo o que?

Na quinta-feira, dia 6, em um dos muitos programas vespertinos da TV Aberta, a apresentadora disse: “Esse sábado 8 de Março é nosso dia”, talvez os outros trezentos e poucos não sejam, daí o problema. Na verdade, todos os dias são de luta da mulher:
na universidade, no trabalho, em casa, com os filhos e marido, com a dupla jornada, com uma remuneração maior, com o machismo e o preconceito.

Notadamente a situação da mulher no mundo e no Brasil melhorou, os números, dados e pesquisam empurram essa verdade, entretanto um pensar sobre a condição da mulher na sociedade, em especial no Brasil, ainda envergonha. Para quem discorda vai o “caso da menina do Pará”, intitulado pela jornalista Cristiane Pelaju (inacreditável para um Estado que afirma como de Direito), em que uma adolescente permaneceu presa em uma casa de detenção no interior do estado com homens. A partir desse dele se descobriu que é prática comum colocarem mulher com homem, inclusive na mesma cela como ocorreu com a adolescente. Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) fora criada para investigar os presídios no país, a constatação também é que não há presídios suficientes e o jeitinho é... jogar as mulheres em celas com homens. O que pode acontecer? Mulheres violentadas e agredidas na sua identidade, no seu íntimo, a exemplo no caso do Pará, não só por homens, mas por mulheres também no poder: governadora, juíza, delegada... daquele que foram culpadas pela atrocidade que aconteceu

A data desde a sua origem suscita reflexão e questionamento, e esse viés se perde em meio a festa. A mulher se reduz a uma data, ao um dia. A vida continua depois do 8 de março: o colega de trabalho que desrespeita a companheira de trabalho; o marido que desvaloriza a esposa; o pai que bate na mãe e o irmão que faz a irmã ou prima e muitos covardes que violentam as mulheres... nessa data os algozes viram mocinho, depois voltam a ser algozes mesmo. Mais que flores neste dia 8, a mulher merece uma realidade mais justa e florida.

1 comentários:

Impulsiva disse...

Como sempre, um texto crítico, na medida e bem condizente com nossa realidade.
Quem dera todos tivessem a mente aberta assim e uma percepção tão aguçada da nossa situação enquanto cidadãs, enquanto mulheres e principalmente enquanto brasileiras.

Beijos,
Kenia Araújo.

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