sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Uma Tarde no Cuman


Aqui minh'alma expande-se, e de amor
Eu sinto transportado o peito meu;
Aqui murmura o vento apaixonado,
Ali sobre uma rocha o mar gemeu.



E sobre a branca areia - mansamente
A onda enfraquecida exausta morre;
Além, na linha azul dos horizontes,
Ligeirinho baixel nas águas corre.



Quanta doce poesia, que me inspira
O mago encanto destas praias nuas!
Esta brisa, que afaga os meus cabelos,
Semelha o acento dessas frases tuas.



Aqui se ameigam de meu peito as dores,
Menos ardente me goteja o pranto;
Aqui, na lira maviosa e doce
Minha alma trina melodioso canto.



A mente vaga em solidões longínquas,
Pulsa meu peito, e de paixão se exalta;
Delírio vago, sedutor quebranto,
Qual belo íris, meu desejo esmalta.



Vem comigo gozar destas delícias,
Deste amor, que me inspira poesia;
Vem provar-me a ternura de tu'alma,
Ao som desta poética harmonia.



Sentirás ao ruído destas águas,
Ao doce suspirar da viração,
Quanto é grato o amor aqui jurado,
Nas ribas deste mar, - na solidão.




Vem comigo gozar um só momento,
Tanta beleza a me inspirar poesia!
Ah! vem provar-me teu singelo amor
Ao som das vagas, no cair do dia.
NB - Cuman - praias de Guimarães



[ CANTOS À BEIRA MAR, São Luís do Maranhão, 1871, pags. 25-26 ]
Uma Tarde no Cuman é um dos poemas de Maria Firmina dos Reis, um nome ainda desconhecido no Maranhão e no Brasil. Ela foi a primeira poetisa maranhense e a também romancista.

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