terça-feira, 8 de janeiro de 2008

O Orgulho dos Colonizadores




Dedico especialmente à Rosana Ferreira, conversando com ela que veio a idéia desse texto, então amiga, obrigadu! Precisamos conversar mais! necessito de idéias!


Brasileiro é um ser que merece ser estudado, é muito excêntrico para não usar outro termo. Ele se orgulha dos povos colonizadores, basta presta atenção à entonação e à ênfase dadas em declarações como “Eu sou descendente de espanhol”, “fui colonizado por italiano”, “minha avó é inglesa”, há até desejo de uma colonização que não existiu “São Luís a única capital fundada pelos franceses". Nessa felicidade vai a Europa inteira, inclusive os renegados lusitanos, existe espaço para americanos também e asiáticos, não para os colonizados como negros e índios. Só se orgulha dos seus colonizadores que são brancos e europeus, menospreza a si e os colonizados. Por isso são poucos ou quase nenhum que levantam a voz e se orgulham de terem sangue negro e índio.



Primeiro é preciso compreender que o processo de colonização é um estupro, uma violência, talvez nem os das treze colônias inglesas fuja à regra. Não se deve comemorar essa ‘desumanidade’. Os europeus estiveram aqui na América Latina, assim como na Ásia e África e incutiram a forma eurocêntrica/euromundo de pensar: eles são os melhores, civilizados...Daí a soberba mesclada com orgulho de se intitular ‘europeu’ e se ligar à Europa. Será por que ou por que será que o discurso mitificado de Saint louis continua vivo e forte? Por que não falar nas famílias açorianas que estiveram em São Luís no começo da colonização lusitana e foram responsáveis pelo povoamento? E os índios e negros que estão aqui e são esquecidos?As contribuições deles tão presente na cultura do país e na constituição do povo brasileiro não são também para se orgulhar?



A constatação é óbvia: os colonizadores continuam a colonizar os colonizados ou os colonizados se colonizam, enfim, a colonização está viva! Vejam só o pensamento do brasileiro, em geral: acha que não sabe falar seu idioma, ou/e que apenas os portugueses sabem; que o inglês correto é o britânico, não o americano e o que da Jamaica é todo errado; que o francês perfeito é o da França, que da Guiana Francesa é ruim; que o melhor espanhol é o de Madrid, o legítimo, o da Argentina é o pior. Ou seja, brasileiro sempre considera o colonizador superior e perfeito (os portugueses, os ingleses, franceses, espanhóis...). Os colonizadores fizeram seu deve de casa, pois, a colonização não terminou, ela continua. A ideologia do opressor foi interiorizada e dominação permanece.



A ingenuidade é tanta que brasileiro considera que se seu colonizador fosse inglês, francês, americano, italiano, espanhol... a história deste país seria outra, nasceria um Estado melhor. Quanta bobagem! Existe uma espécie de rejeição aos lusitanos e a colonização que eles fizeram. Todavia o que há é um profundo desconhecimento do processo histórico que é a colonização. Se a colonização fosse benéfica a África seria o melhor continente, para os que desconhecem: lá estiveram os britânicos, franceses, italianos, belgas e lusitanos, a Europa quase inteira, pra quê?! Explorar, e como roubaram, massacraram, assassinaram, violaram. Não esqueçam que a palavra COLONIZADOR traz consigo o sufixo DOR e não deve ser a toa. Então vale lembrar dos povos que foram e são importantes que devem ser lembrados, e os colonizadores vistos historicamente.

Liliam Freitas

2 comentários:

Pollyana Escalante disse...

Obrigada pelo texto amiga!
Adorei o presente!!!
Como sempre escreve super bem!
Bjãooooooo

Anônimodisse...

Muito bom seu texto, Lilian. Me lembra muito Anibal Quijano, para quem a colonização (ele se referia a da América Latina) se estrutura sobre uma modalidade de violência epistêmica, donde se subalternalizam todas os outros saberes e experiências em prol de uma dita superioridade ocidental. Com efeito, em nosso caso, não se trata apenas de um sentimento de inferioridade frente à Europa, ainda que tal sentimento persista sobre inúmeros aspectos, mas da incorporação de um padrão estético, de um modelo racial, de um modelo de cultura cuja representação almejada parece nunca ser nossa; parece sempre depender de uma forma de reconhecimento, e por certo de deferimento, que venha de fora, com base em critérios externos. Dirão: somos descendentes de espanhóis, alemães, franceses (rsrsrsrsrsrs)...
Sabe, é realmente importante questionar por quê, no caso ludovicense e de sua pretensa fundação francesa, não reinvindicamos uma fundação Tupi; teríamos, inclusive, na figura de Japiaçu nosso primeiro herói!!!
Mas se assim fizessemos, reinvindicariamos uma filiação sempre questionável (como qualquer outra).
A questão mais importante pra mim, dessa forma, é saber por quê dessa necessidade persistente de reinvidicar singularidade e distinção e, principamente, como e em nome de que isso é feito.
Parabéns, muito instigante seu texto.
Desculpe por não fazer um comentário pequeno; é que, vc sabe...

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