segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Tropa de Elite: o Filme de 2007



Tropa de Elite, de José Padilha, é o filme do ano de 2007. É uma eleição difícil, visto que 2007 foi um ano produtivo no cinema nacional, entretanto nenhum outro filme repercutiu tanto, polemizou e gerou inúmeras discussões como tropa de elite.

A história é ambientada no Rio e seu universo (quase que) incontrolável de favelas dominadas pelo tráfico de drogas. O papel da polícia é combater esse tráfico, uma função desempenhada pela Polícia Militar e pelo Batalhão de Operações Especiais da Polícia (BOPE). Como afirma o Capitão Nascimento (Wagner Moura), “na teoria o BOPE faz parte da PM, mas na prática não”. O narrador da história é o Capitão Nascimento que trabalha no BOPE, a chamada tropa de elite, uma espécie de polícia inteligente preparada para grandes operações, como a estadia do Papa em 1997 no Rio, em que o BOPE ficou responsável pela segurança e vida do papa João Paulo II.

Capitão Nascimento está à procura de um substituto para seu lugar no BOPE. Ele já está cansado de um rotina pesada que atropela sua vida pessoal, inclusive procura o setor de Psiquiatria da Polícia.Como vai ser pai e esse momento ímpar na vida de qualquer homem, ele agora procura um candidato a sua altura para ser capitão do BOPE. Essa busca norteia todo o filme, não é uma busca fácil, pelo contrário, ainda mais se o filme evidencia as diferenças entre a polícia militar, colocada como corrupta até a alma, e o BOPE, a não corrupção, a instituição dos incorruptíveis. Como todos, ou quase, são corruptos na polícia militar, e quem vai para o BOPE precisa está na PM, a procura se torna uma luta,visto que a maioria dos policiais estão envolvidos com práticas ilícitas (propina, suborno, acordo com traficante, cafetão...)... mas há luz no fim do túnel: os aspirantes Matias e Neto que são honestos e querem trabalhar, na PM não conseguem, e são aprovados no BOPE.

Nessa questão, a ficção soa apenas ficção, a derrocada da Polícia, uma corporação já conhecida e também a corrupção que nela se instala, já o BOPE é surpresa, é a não-polícia, a instituição que resolve, não se sabe até que ponto e é colocada como perfeita, incorruptível, isso é ficção. Esse filme é baseado no livro Elite da Tropa, do ex-capitão do BOPE Rodrigo Pimentel e o sociólogo Luis Eduardo Soares, que traz várias historias e o filme Tropa de Elite se centra em uma, que é o ponto de vista de um bopista, então ele irá colocar o BOPE? O filme precisa ser captado por essa ótica, por isso Arnaldo Jabor e outros se desagradarem com o filme, daí os termos “perigoso” e “fascista”.

Outra questão: Será real a diferença entre BOPE e a PM, já que são policias? A versão do filme é bopeana contada pelo Capitão Nascimento! Há uma semelhança entre as “duas policias” o comportamento agressivo e violento com os moradores e falta de uma leitura social, inclusive a negação dos Direitos Humanos!

Tropa de Elite bateu tanto na Policia que o diretor José Padilha foi chamado a se explicar. O filme ficou sob um ameaça de ser censurado, de não chegar à telona. Censura não houve, mas uma tentativa sim. Episódios como esses mostram o quão a frágil é a democracia tupiniquim. Por mais que Padilha tivesse carregado, isso não dá o “direito” a ele (diretor) de não ter o direito de se expressar. Produz-se um filme, de repente o poder judiciário, o legislativo, o executivo ou Ministério Público se sente “mal” com a retratação do longa ou o enfoque, então “Pede pra sair?!” É assim, isso é Democracia? Tropa de Elite incomodou e traz mais essa discussão.

E claro que com todas as polêmicas, Tropa de Elite é um dos filmes nacionais mais vistos de todos os tempos. Difícil encontrar alguém que não tenha visto, é mais um daqueles filmes que se você não assistir fica de fora das conversas. Um filme assistido pelas pessoas mesmo antes de está no cinema. Um fenômeno! Viva o Cinema Naciona! São muitas as versões, explicações e especulações de como tropa de elite foi parar nas bancas dos camelôs dois meses antes de ir ao cinema: a oficial é de que a equipe do filme teve equipamentos e objetos subtraídos, inclusive uma cópia do filme praticamente pronto, o que explica o fato do filme chegar antes à pirataria; a outra é de que havia um lobby para que o filme não fosse para o cinema, que fosse CENSURADO (como é Brazil é melhor não duvidar), a polícia estava descontente com o longa-metragem, então se lança o filme via pirataria, o estrago já estaria feito e não podia mais censurar um filme visto pelas pessoas, inclusive os vendedores da cópia pirata no Rio gritavam “Tropa de Elite, compre antes que os policiais proíbam!”, tem sentido, seria difícil um diretor brasileiro ter um filme censurado, seria um rebuliço, mas pra quem foi chamado a prestar esclarecimento...; outra tese é que a cópia lançada foi uma estratégia de marketing do filme, de qualquer forma a cópia pirata de Tropa de Elite resultou em um estrondoso pré-lançamento orquestrado pela pirataria que fez o filme bombar!

Tropa de Elite traz outra discussão, dessa vez sobre a pirataria, não a história narrada pelo capitão Nascimento, mas o filme e seus números, vamos a eles: 76 mil sites na internet disponibilizam o filme para baixar (download), 5 mil cópias de Tropa de Elite são vendidas só no Rio, e no Brasil(?), ou seja, um sucesso. Esses dados são da Revista Veja, de Setembro de 2007, que traz uma matéria de capa sobre o longa de José Padilha.Todo mundo assistiu ao Tropa de Elite, ou quase. Deve ser isso que mais agrada aos produtores, a quem faz cinema. Sem a pirataria Tropa de Elite não seria o mesmo: o grande sucesso, o filme mais visto e comentado de 2007.

E isso faz com que se fale da pirataria, um termo pesado e pejorativo, de maneira mais acertada, como coloca Jeorge Segundo (Acadêmico de Jornalismo da UFPB) “A pirataria tem seu lado bom em tornar mais acessível à arte e cultura (que é um bem de consumo hoje) e de alguma forma, levar um pouco de conscientização à muitos pessoas?” A resposta é sim, a sociedade é a do dinheiro e no geral as pessoas não tem, e por isso não tem acesso aos bens culturais/de consumo, a pirataria quebra u pouco com essa lógica injusta. Jeorge continua com o questionamento: “ Ou devemos apenas enxergar todos os males (sonegação fiscal, desvalorização de direitos autorais, a própria corrupção mostrada também no filme)”. Havia um receio de que a pirataria quebrasse a bilheteria do filme,uma bobagem, e mais ainda gente com um discurso dito “politizado” contra a pirataria “Não assista a cópia pirata do filme”, quem iria esperar dois ou mês o filme no cinema? E na locadora, lembrando que nem todas as cidades brasileiras têm sala de cinema? Além do mais o filme não perdeu, ganhou com praticamente zero em divulgação e o longa estorou! Um excelente filme com direção, roteiro e elenco, um filme inteiro.

Tropa de Elite escora a idéia de que as pessoas que fumam um baseadinho ou bequizinho- no caso a Classe Média- financia o tráfico de drogas e seus desdobramentos. Perfeito, por que a polícia pensa assim! Essa tese se fundamenta, não que a classe média e os usuários de drogas sejam culpados por toda a desgraça nesse Brasil, como a corrupção na Policia e a falência do Estado num dominado por um sistema, como é bem trabalhado no filme. Fica a indignação do capitão Nascimento: “Eu sempre me pergunto: Quantas crianças temos que perder no tráfico para playboy fumar seu baseado?” E são milhares de crianças que morrem pro bacaninha fumar se baseadinho!


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