segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Muito mel também na Mídia


Na doce inspiração do conto As notícias e o mel, de Marina Colasanti, em Uma idéia toda Azul, é torcer para O mel chegar à Imprensa.


Um dia o rei ficou surdo.
Não como uma porta, mas como uma janela de dois batentes.
Ouvia tudo do lado esquerdo, do direito não ouvia nada.

A situação era incômoda.
Só atendia aos Ministros que sentavam de um lado do trono.
Aos outros, nem respondia.
E até mesmo de manhã, se o galo cantasse do lado errado, Sua Majestade não acordava e passava o dia inteiro dormindo.


Foi quando mandou chamar o gnomo da floresta, e o gnomo, obediente, apareceu na corte. Veio voando com suas asinhas, tão pequeno que, embora todos estivessem avisados da sua chegada, quase o confundiram com um inseto qualquer.

Chegou e logo se entendeu com o rei, estabelecendo um trato.
Ficaria morando no ouvido direito e repetiria para dentro, bem alto, tudo o que ouvisse lá fora. Tendo asas, e desejando, poderia aproveitar seu parentesco com as abelhas para fabricar, no ouvido real, alguma cera e um pouco de mel.

O trato funcionou às mil maravilhas.
Tudo o que o gnomo ouvia, repetia em voz bem alta nas cavernas da orelha, e o eco e a voz do gnomo chegavam até o rei, que passou a entender como antigamente, de lado a lado.


Correu o tempo.
Rei e gnomo, assim tão vizinhos, foram ficando cada dia mais íntimos. Já um sabia tudo do outro, e era com prazer que o gnomo gritava, e era com prazer que o rei ouvia o zumbidinho das asas atarefadas no fabrico da cera e domel.
Uma certa doçura começou a espalhar-se do ouvido real para a cabeça, e o rei foi ficando aos poucos mais bondoso. Um certo carinho foi se espalhando da caverna real para o gnomo, e ele foi ficando aos poucos mais bondoso.


Foi essa a causa da primeira mentira.
O Primeiro Ministro deu uma má notícia no ouvido esquerdo, e o gnomo, não querendo entristecer o rei, transmitiu uma boa notícia no ouvido direito.
Foi essa a primeira vez que o rei ouviu duas notícias ao mesmo tempo. Foi essa a primeira vez que o rei escolheu a notícia melhor. Houve outras depois.
Sempre que alguma coisa ruim era dita ao rei, o gnomo a transformava em alguma coisa boa.
E sempre que o rei ouvia duas notícias escolhia amelhor delas.
Aos poucos o rei foi deixando de prestar atenção naquilo que lhe chegava do lado esquerdo.


E até mesmo de manhã, se o galo cantasse desse lado e o gnomo não repetisse o canto do galo, Sua Majestade esquecia-se de ouvir e continuava dormindo tranqüilo até ser despertado pelo chamado do amigo.
De um lado o mel escorria.

Do outro chegavam as preocupações, as tristezas, e todos os ventos maus pareciam soprar à esquerda da sua cabeça. Mas o rei tinha provado o mel e a doçura era agora mais importante do que qualquer notícia. Entregou o trono e a coroa para o Primeiro Ministro.
Depois chamou o gnomo para junto da boca e murmurou-lhe baixinho a ordem.
Obediente, o gnomo voou para o lado esquerdo e, aproveitando seu parentesco com as abelhas, fabricou algum mel, e abundante cera, com que tapou para sempre o ouvido do rei.

0 comentários:

Postar um comentário

Fiquem a vontade. Para nós que fazemos o pontoinicial seu comentário é importante, tipo assim: importantão.Levantamos a tese, questionamos e esperamos que as pessoas leiam, entendam, gostem e se posicionem. Assim, melhoramos a escrita e a forma de abordagem. texto